quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Humildade verde-amarela



Não consigo imaginar um Michael Phelps brasileiro. Uma unanimidade, que quebrando recorde atrás de recorde confirme o favoritismo que o mundo inteiro deposita nele. E nem é pelo abismo estrutural que existe entre Estados Unidos e Brasil ou pelo fato de que o americano é daqueles que aparecem no mundo a cada milênio. Falo das declarações.

Num País onde uma pessoa ganha mais méritos por ser carismática do que trabalhadora, é impensável ver um atleta estabelecer metas altas e afirmar com toda a segurança que seu objetivo é entrar para a história. No Brasil, basta uma trajetória "bonita" de superação pra virar ídolo. Não é a toa que nossos favoritos encarnam as cores da bandeira brasileira nos momentos decisivos: tremem que nem vara verde e amarelam mais que o ouro da medalha que cobiçavam.

Interessante notar que, em momento algum, Phelps pareceu – ou foi considerado – arrogante. A imprensa e os torcedores parecem até admirar a naturalidade com que ele expõe seus objetivos. Na nossa Pátria amada, porém, se uma declaração não estiver impregnada de “humildade” (apenas destacando as qualidades dos adversários, como uma desculpa antecipada pra derrota que ainda virá) vira atestado de babaquice. Ou não foi assim com o Romário quando ele anunciou que ia atrás do milésimo gol?

A humildade dos nossos atletas não passa do velho e bom complexo de vira-lata com verniz competitivo. E dá-lhe “o América de Natal é muito forte e merece respeito” e “não existe mais time bobo no futebol”. Enquanto o brasileiro não for capaz de assumir a responsabilidade de vencer – e ver alguém assumir a responsabilidade de vencer – vamos continuar sendo um País de poucas conquistas, uma gloriosa nação de “quase-lás” verde-amarelos. Com ênfase bem grande no “amarelo”.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Seja o que Deus quiser

Por que é tão difícil pra algumas pessoas entender a revolta dos jogadores do Flamengo com o episódio da bomba ontem?

O que passa na cabeça de um cidadão que apóia uma barbaridade dessas? Se jogar bomba ganhasse jogo, o Iraque não perdia uma! “É bom pra ver se os jogadores acordam”. Que tipo de argumento é esse? Se eles acordam não sei, mas com certeza não dormem. Ficam a noite inteira pensando no que vai acontecer se os resultados não aparecerem. O Goiás ganhou do Cruzeiro em Minas e vem de uma goleada sobre a Portuguesa, enquanto o Flamengo não sabe o que é vencer há 6 jogos. E se perderem, o que vai ser na próxima vez? Tiros?


Pior são aqueles que criticam o Juan por dizer que todo o jogador pensa em sair num momento desses. Acusam o cara de “achar um motivo pra ir embora”. Me corrijam se eu estiver errado – eu não estava no treino, eu não sou vagabundo desocupado, tenho que trabalhar – mas pelo que eu saiba o Juan não ficou no meio do campo pedindo pra torcida jogar alguma coisa nele. Foram os próprios torcedores que deram um motivo pra ele deixar o Flamengo.

O mais incrível é que esses ditos torcedores foram até o treino pedir “honra ao Manto”. Quem são eles pra falar em amor à camisa? Atrapalhar o trabalho do time, agredir os jogadores, bater boca com eles... ISSO é honrar o Flamengo?

O torcedor caiu na armadilha que ele próprio criou. Embarcou na fantasia de “Brasileiro é obrigação” e passou a oferecer cobrança no lugar do apoio. Ao invés de ajudar, atrapalhou – sem se dar conta de que o único prejudicado nessa história vai ser ele mesmo. Faltou inteligência. Juntos, time e torcida deram show e chegaram em 3º no ano passado. Separados, onde vamos parar? O rubro-negro intolerante merece o time em queda livre que tem.

Já espero o pior pro jogo de hoje. O mínimo de concentração e vontade de vencer com certeza foi embora assim que aquela bomba explodiu. Seja o que Deus quiser.